LI E RECOMENDO...
Por Beatriz Montesanti
“É uma grande responsabilidade”, diz Agualusa, quando pedido para recomendar cinco livros para os jovens leitores. Ao contrário do que muitos dizem, para o escritor angolano, os jovens leem muito mais hoje, e histórias muito mais complexas do que os livros infantis que lia em sua época.
Criado em uma casa cercado por eles, os hábitos de leitura de Agualusa se desenvolveram conforme podia alcançar as estantes mais altas. Hoje cultiva sua biblioteca em um apartamento em Portugal, e a coleção de livros é uma das coisas que mais lhe faz falta enquanto escreve deseu escritório mais comum: o avião. “O avião é um escritório com uma boa vista, você tem sua cabeça nas nuvens, só sinto falta da minha biblioteca”, diz.
Confira, abaixo, cinco livros que marcaram Agualusa:
Os Mais – Eça de Queirós
Se eu pensar em minhas grandes paixões literárias, eu pensaria em Eça de Queirós, um autor clássico, português do século 19, mas que é extremamente divertido. Aconselho a jovens e aconselho a toda gente. Continuo a reler e rio alto enquanto leio. Os Maias é um livro grande, mas que se lê como se assiste a uma novela.
Tenda dos Milagres – Jorge Amado
Jorge Amado é um autor bem disposto, com um humor e uma alegria africana. Eu li tudo de Jorge Amado e A Tenda dos Milagres é um que gosto muito, até hoje. A África salvou o Brasil da melancolia portuguesa.
Agosto – Rubens Fonseca
Outro autor brasileiro que me marcou muito. Se tivesse que escolher um livro do Rubens, seria talvez Agosto, um romance policial.
A espera dos bárbaros – J.M Coetzee
Na literatura africana, gosto muito do sul-africano Coetzee. Ele recebeu o Nobel de Literatura em 2003.
Na Patagônia – Bruce Chatwin
Gosto muito de livros de viagem. Chatwin é um escritor de viagens inglês.
Novas edições dos clássicos de Drummond
Confira as novas edições de vários livros de e sobre Carlos Drummond de Andrade
Este ano, o poeta Carlos Drummond de Andrade será homenageado pela FLIP, a maior festa literária do país, realizada em Paraty. Neste clima, a Companhia das Letras, que adquiriu recentemente os direitos sobre a obra, vai relançar vários títulos do autor, com direito ainda a um livro especialmente editado para a Flip: José, publicado pela primeira vez em volume autônomo.
CONCURSO CULTURAL O Educar para Crescer, em parceria com a Companhia das Letras, preparou um concurso cultural para você concorrer a esses livros! Acesse aqui para participar |
Confira as obras já publicadas:
ANTOLOGIA POÉTICA Autor: Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 1962 Editora:Companhia das LetrasReunida e organizada pelo próprio Drummond, aos seus 60 anos de idade, a coletânea reune desde seus poemas mais clássicos aos menos conhecidos, porém queridos pelo autor. Encontra-se entre suas páginas José, Cidadezinha qualquer, Confidência do Itabirano, O elefante, entre muitas outras. É uma ótima porta de entrada a obra do autor. Trecho: “Carlos, sossegue, o amor é isso que você estã vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será. [...]” (Não se mate) |
CLARO ENIGMA Autor:Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 1951 Editora:Companhia das LetrasO amor, a brevidade da vida e a herança cultural são alguns dos temas que atravessam as poesias reunidas em Claro enigma. O livro abre com a epígrafe de Paulo Valéry, “Os acontecimentos me entediam”, o que não se reflete necessariamente ao longo das páginas. Entre elas, “A máquina do mundo”, eleito o melhor poema brasileiro do século XX por um grupo de críticos e especialistas consultados pelo jornal Folha de S.Paulo. Trecho:“[...] a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.Abriu-se majestosa e circunspecta, sem emitir um som que fosse impuro nem um clarão maior que o tolerável [...]” (A máquina do mundo) |
CONTOS DE APRENDIZ Autor:Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 1962 Editora:Companhia das LetrasPublicado no mesmo ano em que Claro enigma, este é um dos poucos livros de contos de Drummond, e a primeira grande obra de ficção, publicada quando o autor estava prestes a completar 50 anos. Entre as histórias aqui reunidas está “A salvação da alma”, “O sorvete” e “O gerente”.Trecho: “Briga de irmãos… Nós éramos cinco e brigávamos muito, recordou Augusto, olhos perdidos num ponto X, quase sorrindo. Isto não quer dizer que nos detestássemos. Pelo contrário. A gente gostava bastante uns dos outros e não podia viver na separação.”(A salvação da alma) |
FALA, AMENDOEIRA Autor:Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 1957 Editora:Companhia das LetrasFala, amendoeira reune as crônicas de Drummond que eram publicadas no jornal Correio da Manhã, no qual o poeta assinava uma coluna desde 1954. É um ótimo livro para aqueles que querem conhecer a faceta jornalística do poeta. Professor de Literatura Brasileira da USP, Ivan Marques compara, no posfácio da edição, o trabalho em prosa drummondiana com Machado de Assis: “São bem machadianas as crônicas de Fala, Amendoeira – nos temas, no uso da ironia e inclusive na lingauagem refinada, levemente aristocrática, que divide espaço com as fírulas e os coloquialismos. Do conúbio entre galhofa e melancolia, resulta como no caso das Memórias póstumas de Brás Cubas, uma prosa ao mesmo tempo divertida e agudamente crítica”, escreveu.Trecho:“As mães ensinam que é feio escutar conversa dos outros, mas, com os coletivos entupidos de gente, somos forçados a isso, e acabamos nos interessando pelo que não é de nossa conta. Talvez fosse mais acertado aconselhar, hoje em dia: Tome parte na conversa allheia. Ajuda a passar o tempo, e contribui para confraternizar solitários e complexados.”(Delícias de manaus) |
AS IMPUREZAS DO BRANCO Autor: Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 1973 Editora:Companhia das LetrasAs impurezas do brancofoi publicado em um período de ditadura e de efervescente cultura jovem. Os poemas aqui reunidos tratam do cotidiano do Brasil e do mundo, de notícias absurdas de jornal, da publicidade, do verão carioca e, sem faltar, do amor.Trecho: “Acorda, Maria, é dia de festival. Violas já vêm dançando no doce do canavial. Acorda, Maria, é dia de prazer municipal. A bebida está pedindo pra ser bebida a comida reclamando pra ser depressa engolida a risada quer ser rida o namoro namorado o peixe quer ser pescado o sonhado ser vivido. [...]” (Não se mate) |
SENTIMENTO DO MUNDO Autor: Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 1940 Editora:Companhia das LetrasO livro reúne algumas das obras mais clássicas do poeta, como Sentimento do mundo, Confidência do Itabirano, Poema da necessidade. No contexto do Estado Novo e ascenção de nazifascismo na Europa, o livro oscila entre a desesperança e a delicadeza.Trecho:“Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor. [...]” (Sentimento do Mundo) |
JOSÉ Autor: Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 1942 Editora:Companhia das LetrasJosé, uma das maiores obras de Drummond, foi publicado originalmente no volume Poesias,pela Editora José Olympo. Agora, pela primeira vez, os doze poemas que o compões são publicados em um único volume, para celebrar a homenagem ao poeta na 10a edição da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty).Trecho: “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? [...]” (José) |
MENINO DRUMMOND Autor: Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 2012 (inédito) Editora:Companhia das LetrasNesta nova coletânea foram reunidas poesias nas quais Drummond relembra sua infância, os tempos de menino, fala do cotidiano, da vida, ou sobre crescer. Entre elas pode-se encontrar Quadrilha, Verbo Ser e Carta. O livro é todo ilustrado por Ângela-Lago.Trecho:“Que vai ser quando crescer? vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? (…)” [...] (Verbo Ser) |
A ROSA DO POVO Autor: Carlos Drummond de Andrade Ano da publicação orignial: 1945 Editora:Companhia das LetrasA Rosa do Povo é considerado o livro mais político de Drummond. Com um olhar sobre a guerra, a ideologia, o amor e a morte, é o grande em marco em sua carreira e na literatura brasileira como um todo.Trecho:“Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bonder, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. [...] (A flor e a náusea) |
Além da reedição das obras de Drummond pela editora Companhia das Letras, a editora Biblioteca Azul também aproveitou a Flip para relançar dois livros sobre o poeta. Confira:
Os livros preferidos dos intelectuais brasileiros
Biblioteca temporária apresenta 10.000 sugestões de leitura
*Por Beatriz Montesanti
O que Ricardo Abramovay, Jô Soares, Fernanda Montenegro e Luiz Paulo Horta têm em comum? Todos consideram Guerra e Paz, de Liev Tolstói um dos melhores livros que já leram. Essa e outras recomendações de leituras dadas por grandes personalidades podem ser conferidas em uma biblioteca diferente, montada no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.
O projeto é da diretora e cenógrafa Bia Lessa e consiste em uma grande exposição, aberta ao público, que aproveita o contexto de debate sobre sustentabilidade no Rio de Janeiro para ressaltar o importante papel exercido pela sociedade brasileira.
A biblioteca ocupa um dos espaços da exposição do evento Humanidade2012, inserida entre salas e cenários lúdicos. Ali, a linguagem assume toda a sua potencialidade transformadora. Atores, escritores, políticos, filósofos, jornalistas e músicos ocuparam as estantes com suas leituras favoritas.
Tem para todos os gostos: para os acadêmicos, a prateleira de Fernando Henrique Cardoso introduz a vasta obra político-econômica brasileira e internacional, como História Econômica do Brasil, de Caio Prado Júnior e O Capital, de Karl Marx. Ou você pode se deliciar com as escolhas de Dona Canô, mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia, que selecionou boa parte da obra de Jorge Amado. Aliás, o escritor baiano, que comemora seu centenário em 2012, foi um dos mais lembrados, transitando pelas listas dos mais diferentes tipos de leitores.
Ao todo, são 10.000 títulos escolhidos por 120 personalidades. Descobrem-se, entre as obras, os autores que serviram de influência e inspiração para Criolo, Rodrigo Santoro, Marina Silva ou Caetano Veloso. Criolo selecionou títulos como A Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm, A nervura do real, de Marilena Chauí e Quincas Borbas, de Machado de Assis. Já entre os preferidos do ator Rodrigo Santoro, encontrava-se Ulysses, de James Joyce, O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse e Grande Sertões: Veredas, de Guimarães Rosa. A vasta obra de Sigmund Freud enfileirava-se no espaço destinado a Marina Silva e não é de se espantar, encontrar Não, de Augusto de Campos, entre os livros de Caetano Veloso.
A exposição fica aberta até o fim desta semana, sexta-feira, 22 de junho, no Forte de Copacabana. Depois disso, os livros serão doados para uma comunidade do Rio de Janeiro. Para aqueles em busca de uma boa dica de leitura ou que queiram conhecer melhor ídolos nacionais, vale o passeio.
Para ver a lista completa dos livros recomendados por cada personalidade, clique aqui.
4 livros que marcaram a infância de Laerte
*Por Beatriz Montesanti
Laerte recorda com muito carinho as leituras de sua infância. O cartunista cresceu em uma casa abastecida com livros, muitos deles voltados para crianças e jovens, como Monteiro Lobado.
“Minha mãe lia bastante para a gente textos em inglês. Tinha um em especial que era o Humpty Dumpty, um ovo sentado no muro, e tinha uma quadrinha que a gente cantava que era bastante proverbial. Era uma revista com joguinhos, brincadeiras, histórias… muito divertido. Tinha uma linha pedagógica bastante avançada para os anos 50”, relembra o cartunista.
Confira, abaixo, algumas das leituras que mais o marcaram:
“É um romance histórico de um autor finlandês. Ele escrevia romances históricos como “O Etrusco”. Esta obra em particular me foi um marco de literatura.”
Quincas Borba – Machado de Assis
“Eu li muito novo. Depois um pouco mais crescido li de novo e vi a diferença. É ótimo!”
Urupês – Monteiro Lobato
“Coleção de contos de Monteiro Lobato. Mas poderia recomendar muitos outros que gostei também, como “Negrinha” e “Cidades Mortas”. Gosto de toda a sua coleção para adultos e para crianças.”
Cazuza – Viriato Correia
“Viriato gostava de fazer histórias de motivação histórica. Ele escrevia pequenos textos que eram contos sobre a história do Brasil e romanceava esses eventos. Era bem mistificador, mas uma delícia também.”
Os livros que inspiraram os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá a virarem quadrinistas
*Por Beatriz Montesanti
Os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon vem se destacando no mundo dos quadrinhos, publicando seus títulos nos EUA, Itália e Espanha. Ao todo, os irmãos de “Daytripper” já ganharam quatro Eisner Awards, o “Oscar dos quadrinhos”, por trabalhos individuais e em conjunto. O Educar para Crescer conversou com eles para descobrir as obras que os inspiram.
Fábio Moon começou a fazer quadrinhos com uma vontade: criar nas pessoas a sensação que sentia quando lia obras literárias. Ao ler Capitães de Areia, ainda garoto, queria fazer parte daquela turma de meninos de rua em Salvador. O autor Jorge Amado o colocava diante daquela situação sedutora, daquela vida incrível. “Eu queria fazer o mesmo: criar coisas que deixassem as pessoas querendo saber mais sobre aquilo, querendo seguir aquele caminho e querendo descobrir aquelas aventuras. Eu via isso nos livros que a escola me fazia ler”, relembra o artista.
Fábio Moon começou a fazer quadrinhos com uma vontade: criar nas pessoas a sensação que sentia quando lia obras literárias. Ao ler Capitães de Areia, ainda garoto, queria fazer parte daquela turma de meninos de rua em Salvador. O autor Jorge Amado o colocava diante daquela situação sedutora, daquela vida incrível. “Eu queria fazer o mesmo: criar coisas que deixassem as pessoas querendo saber mais sobre aquilo, querendo seguir aquele caminho e querendo descobrir aquelas aventuras. Eu via isso nos livros que a escola me fazia ler”, relembra o artista.
Seu irmão gêmeo, Gabriel Bá, tinha a mesma sensação. Ambos tiveram uma infância mais reclusa e, pelo fato de irem bem na escola, tinham tempo livre para criarem em casa, lendo e desenhando: “Eu passava muito mais tempo em casa desenhando e lendo do que na rua jogando bola. Em parte porque tenho um irmão gêmeo e a gente podia fazer isso junto. A gente se bastava e ficávamos desenhando o tempo todo juntos e isto acabou nos levando a fazer histórias em quadrinhos”.
Confira abaixo os livros que inspiraram Fábio Moon e Gabrial Bá, durante a infância e adolescência, alguns dos quais citados pelos dois.
Fábio Moon: “Nós víamos naquelas histórias e queríamos ser o adolescente que víamos ali.”
Gabriel Bá: “Foi um livro que influenciou os dois. A gente tinha 14 anos e se relacionava com o livro por ser uma história sobre adolescentes, só que eles estão vivendo mil aventuras e você é um moleque estudando para ir bem na escola. São coisas que te atraem, porque você gostaria de ser aquela pessoa.”
Gabriel Bá: “Foi um livro que influenciou os dois. A gente tinha 14 anos e se relacionava com o livro por ser uma história sobre adolescentes, só que eles estão vivendo mil aventuras e você é um moleque estudando para ir bem na escola. São coisas que te atraem, porque você gostaria de ser aquela pessoa.”
Fábio Moon: “O Eisner trabalhava muito bem a questão de criar um mundo no qual você se reconhecia.”
Fábio Moon: “Eu achava que as coisas que aconteciam nas histórias do Laerte, que se passavam na Vila Madalena, onde eu moro, podiam acontecer comigo, porque eu moro lá, eu reconheço aquelas calçadas, aquelas árvores… Parece surreal, mas é este o poder da ficção: mergulhar você na história, pois você reconhece alguma coisa lá. O Laerte fazia muito isso para mim em São Paulo.”
Fábio Moon: “As pessoas não dão valor à poesia hoje em dia. A poesia é brega, você faz uma riminha com amor, dor e calor e você acha que está fazendo poesia. Mas a história em quadrinho tem muito a ver com poesia, porque você tem que resumir muito o que irá colocar em palavras, pois não se tem todo o espaço do mundo. Você tem que escolher muito bem as palavras, as imagens, e tem que criar um ritmo de leitura. Isso você descobre com a poesia, lendo Fernando Pessoa, tragédias gregas, tudo tem um ritmo que fica. Você não pensa mais em rima, mas no ritmo.”
Gabriel Bá: “É um livro sobre duas crianças que moram em uma casa e, enquanto a mãe dormia, saem pelas ruas de São Paulo pelo quintal que se transforma em um verdadeiro submarino. Quando chegam ao Minhocão, mergulham e caem no andar de baixo, na Amaral Gurgel. Os meninos dão essa volta e retornam para casa. Este livro me atraiu primeiro pelos desenhos, era um livro ilustrado, com uma estrutura de quadrinhos, e também mostrava um lugar que existia em São Paulo. Foi a primeira vez que vi a cidade em uma história em quadrinhos e enxerguei que o meu mundo podia fazer parte destas histórias.”
100 dias entre o céu e o mar – Amyr Klink
Gabriel Bá: “Gostei bastante por ser uma história que aconteceu de verdade, ser uma pessoa que existe.”
Os gêmeos também conversam com o Educar sobre suas vidas escolares e a importância da Educação. Confira os depoimentos:
Os cinco livros de história que marcaram a vida de Eduardo Bueno
O primeiro livro que o jornalista, escritor e tradutor Eduardo Bueno comprou, ele tinha oito anos e havia recebido um dinheirinho de aniversário, foi de história, melhor, livro sobre a pré-história da humanidade “…e logo percebi que aquele tipo de leitura me transportava para outra época, o que era o que eu mais queria fazer no dia a dia.” O tempo passou, o menino nascido em 1958, em Porto Alegre, cresceu, se formou em jornalismo e ganhou o mundo. Mais precisamente, os Estados Unidos, onde Eduardo gastou bom tempo viajando e se especializando em vários temas, entre eles, a pesquisa histórica. São de sua autoria obras que recontam o início da história brasileira (por exemplo, “A Viagem do Descobrimento”, de 1998), de fácil leitura – e muito bem aceito em salas de aula. “Sou um apaixonado pelo primeiro século da nossa narrativa”, reconhece.
Pinçar as obras que marcaram a sua vida remete às “viagens” que fez como leitor: desde criança, Eduardo Bueno foi apaixonado pelo Egito antigo, assim como se sentiu bastante atraído, já adulto, pela história dos Estados Unidos. A sua seleção de leituras é, portanto, um convite a entrar na máquina do tempo. Vamos nessa?
(Itatiaia)
“Aos 12 e 13 anos, era vidrado na história do Egito antigo – cheguei mesmo a pensar ser a reencarnação de um faraó, era algo obsessivo, o que deixou de ser com o tempo, graças a Deus… Naquele tempo de garoto, teve um livro que marcou bastante, “O Egípcio”, de Mika Waltari, que conta a história de um médico, criado por pais adotivos, que passa a frequentar a corte de um faraó, apaixona-se perdidamente por uma mulher e perde tudo para depois se recuperar, viajando pelo mundo. O livro rendeu um filme maravilhoso, de Michael Curtiz… Ambos valem muito a pena.”
(Planeta do Brasil)
“Aprendi inglês rápido, já aos 13 anos tinha domínio do idioma… E foi assim que li, no original, “A Descoberta da Tumba de Tutankhamon”, de Howard Carter e A.C. Mace. O livro revela como foi esse momento fantástico da arqueologia mundial, ocorrido em novembro de 1922, e que envolveu um arqueólogo obstinado, um lorde generoso e outros personagens que ainda hoje fazem dessa descoberta uma aventura fantástica! A obra é o primeiro volume da coleção ‘Tesouros do Passado’, da qual fui editor, aliás”.
(L&PM Editores)
“Devia ter uns 22 anos, quando entrou na minha vida a literatura beatnik, foi um período de viagens pelos Estados Unidos, quando conheci Bob Dylan e me aproximei muito do universo ‘maldito’, transgressor… Um dos livros emblemáticos desse movimento literário americano (e um dos preferidos de Dylan, aliás) era “On the Road” (‘Pé na Estrada’), de Jack Kerouac – que, inclusive, me estimulou o suficiente a encarar sua tradução, um trabalho extremamente difícil, eu diria mesmo um suplício e que foi muito mal pago… Conta a história de dois jovens que atravessam o vasto território dos Estados Unidos e Kerouac consegue fazê-lo de uma forma inteiramente nova, pessoal. Uma viagem muito, muito especial.”
(L&PM Editores)
“Há um livro que marcou profundamente a minha literatura sobre o Brasil, os livros que iria depois escrever sobre a história do meu País… Ele tem o título de “Enterrem meu Coração na Curva do Rio”, de Dee Brown (com tradução do Geraldo Galvão Ferraz). É um livro impressionante, ele conta o genocídio dos índios americanos com detalhes narrados pelos próprios indígenas… Fiz questão de visitar Brown durante aquele período de viagens pelos EUA… Cheguei com a maior cara dura e ele me recebeu, era professor de uma universidade do Texas, passamos umas três horas juntos conversando… Sempre digo que uma das formas do nosso País se entender é ter conhecimento sobre o que aconteceu ao longo da sua história – a pré-história, em particular. Porque já tínhamos habitantes no nosso território bem antes da chegada dos portugueses, gente que experimentou soluções de sobrevivência com o meio ambiente, enfim, um período que mereceria ser profundamente conhecido…”.
(Editora Record)
“Um dos primeiros livros que pesquisei para entender melhor a história do meu país foi “A Carta de Perto Vaz de Caminha” – há uma versão assinada por Rubem Braga e com ilustrações de Carybé, um luxo, chamada “Carta a El Rey Dom Manuel”, que funciona, no meu entender, como a carta de identidade do Brasil. Ela é de autoria do escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral, ele narra o assombro dos portugueses na chegada à nossa terra – e o faz utilizando um idioma que todo mundo lê e entende”.
O livro como um convite a aprender
*Por Beatriz Montesanti
“A literatura é um meio ou é um fim?”, foi a pergunta que pautou o encontro Conversas ao Pé da Página, organizado pelo centro de estudos A Cor da Letra e pela Revista Emília, e que reuniu pedagogos, educadores, psicólogos, editores e outros profissionais no SESC Pinheiros, dias 2 e 3 de Maio.
O objetivo do evento era promover a reflexão em torno da importância da leitura e, nesta edição, o foco foi para crianças e jovens no século XXI. A última mesa, composta pela psicóloga Claudia Vidigal e a pedagoga Teresa Villela, expôs os desafios da infância e da juventude. “Temos que soltar nosso preconceito sobre o que é bom para um e ruim para outro. O livro será sempre um convite a aprender”, contou Teresa, que trabalha com formação de professores para a inclusão de estudantes com deficiência visual, “A leitura sempre me instigou. A ilustração, o cheiro, tudo no livro é um convite a conhecer o que não conhecia”.
Claudia Vidigal, por sua vez, chamou a atenção para a pedagogia da presença promovida pelos livros: “É permanência, a criança sabe que pode ir e vir e o livro estará ali”. Claudia dirige o Instituto Fazendo História, que atende crianças e adolescentes em abrigos, incentivando-os a registrarem sua trajetória, principalmente por meio da literatura infantil. ara estas crianças, muitas delas abandonadas ou negligenciadas pelos pais, o livro tem um papel fundamental. Mas, embora se aproprie do livro para reconstruir relações, Claudia acredita que a literatura é realmente um fim, pois seu objetivo é que as crianças leiam mais.
Estão previstos mais dois blocos de Conversas ao Pé da Página em junho e agosto deste ano, também no SESC Pinheiros. Você pode conferir a programação e se inscrever para o evento no site abaixo. Vale a pena participar e se inteirar de grandes iniciativas em prol da leitura no Brasil e no mundo!
Livros para gostar de matemática
*Por Maria Clara Braz
Na busca por soluções para ajudar seu filho nas aulas de matemática, já se foram muitas estratégias, não é mesmo? Reunião com o professor da escola para pedir para ele explicar a matéria novamente, aula de reforço, súplicas para o colega mais inteligente da classe ajudá-lo na véspera da prova… E nada parece resolver. Será que ele não gosta de Matemática e por isso não entende ou não entende Matemática e por isso não gosta dela?
Que tal mais uma tentativa para mudar esse cenário? Nas livrarias existem inúmeros títulos que não são livros didáticos, mas têm tudo a ver com essa área do conhecimento. São romances e livros de atividades que conseguem transformar muitos dos números e das expressões matemáticas que tanto intimidam e irritam as crianças e os adolescentes, em histórias deliciosas e desafios divertidos.
Confira a seguir, 11 indicações que vão deixar seu filho interessado no assunto e com vontade de aprender:
Para jovens e adultos
1. Uma coleção de livros raros sobre matemática é enviada de Manaus para o senhor Ruche, que mora em Paris, por um amigo que ele não vê há mais de meio século. Ao mesmo tempo, o menino Max adota um papagaio, batizado de Nofutur, salvando-o de ser violentado por bandidos. Juntos, o velho, o garoto e o leitor se vêm desafiados a catalogar os livros e, consequentemente, a organizar a história da matemática, ao mesmo tempo em que se surpreendem com as falas reveladoras da ave sobre o assunto. Assim, todos acabam por descobrir detalhes da vida de matemáticos famosos como Tales, Pitágoras, Euler e Arquimedes e a compreender a estrutura do pensamento de cada um deles. Escrito por um professor da Universidade Paris VIII, é um livro que captura a atenção de quem gosta de tramas policiais.
O Teorema do Papagaio – Denis Guedj – Ed. Cia. das Letras, 504 págs., 61,50 reais
2. Por si mesma, a Matemática não envelhece. O mesmo acontece com o clássico livro que conta as aventuras do persa Beremiz Samir na empreitada de resolver problemas que aparentemente não têm solução. Samir consegue, por exemplo, formar qualquer número com quatro algarismos 4. Duvida, caro leitor? Para fazer o zero, ele propõe subtrair 44 de 44 e para 1, a fração 44/44. Manipulando a lógica, o personagem mistura o clima da terra das mil e uma noites com as regularidades e as convenções da ciência dos números.
O Homem que Calculava – Malba Tahan – Ed. Record – 286 págs., 34,90 reais
3. Já experimentou fazer uma multiplicação começando pelo algarismo da esquerda do multiplicador em vez de seguir a fórmula de iniciar com o da direita? Será que dá certo? Esse é um dos desafios que Malba Tahan, pseudônimo do professor brasileiro Júlio César de Mello e Souza, propõe em um almanaque cheio de curiosidades, convidando o leitor para brincar com as propriedades dos números. A propósito, a resposta é sim, da esquerda para a direita também funciona.
Matemática Divertida e Curiosa – Malba Tahan – Ed. Record – 160 págs., 29 reais
4. Números primos, raiz quadrada, teorema de Pitágoras… Se todos esses termos assustam durante a aula de Matemática, nas páginas do livro escrito pelo professor da Universidade de Buenos Aires, eles são como itens de um kit de mágica: acrescentando um número ali, subtraindo outro acolá… Zás! Os problemas apresentados são esclarecidos com soluções que requerem simplesmente lápis, papel e uma dose de persistência.
Matemática… Cadê você? – Sobre Números, personagens, problemas e curiosidades – Adrián Paenza – Ed. Civilização Brasileira – 288 págs., 32 reais
5. Imagine conhecer os participantes de uma copa do mundo de cálculo mental ou então o homem que analisa e calcula as probabilidades de mais da metade dos caça-níqueis do mundo e saber como essa turma pensa e, é claro, porque a matemática para eles é algo tão simples… Isso é possível se o leitor se deixar levar como companheiro de viagem do autor, que visita diversos lugares do mundo – da floresta Amazônica ao Japão.
Alex no País dos Números – Uma Viagem ao Mundo Maravilhoso da Matemática – Alex Bellos – Ed. Companhia das Letras – 512 págs., 44 reais
6. Tem gente que acha que Matemática é coisa de maluco. Mas depois de ler esse livro, você vai ter certeza que ela é mesmo coisa do diabo, o simpático e ousado personagem que invade os sonhos do menino Robert, apresentando problemas a ele, mas sem deixá-lo jamais sem uma resposta clara (algumas, inclusive, são acompanhadas de desenhos para ficarem mais fáceis de entender). Teplotaxl – o coisa ruim não tão ruim assim – faz, a cada página, o garoto temer cada vez menos os cálculos e as relações geométricas.
O Diabo dos Números – Um Livro de Cabeceira para Todos Aqueles que têm Medo de Matemática - Hans Magnus Enzensberger – Ed. Cia das Letras – 272 págs., 46 reais
7. O almanaque que reúne uma natureza diversa de problemas – dos aparentemente simples (como provar que 2+2=4) até os realmente complicados (com equações e outros bichos) e também provoca risos apresentando piadas impagáveis (“Que barulho um matemático faz quando está se afogando?” Resposta: “Log, log, log, log, log…”) é uma pedida e tanto para reunir os amigos e… estudar diversos conteúdos! Incríveis Passatempos Matemáticos – Ian Stewart – Ed. Zahar – 356 págs., 39,90 reais
Para crianças
1. De forma divertida, os pequenos passam a se familiarizar as figuras geométricas. O título faz parte de uma série – Triângulos, Retângulos e Círculos – e propõe que as crianças encontrem essas formas em ilustrações que retratam cenas em ambientes cotidianos – como a cozinha.
Formas Por Todos os Lados – Quadrados – Anita Loughey – Ed. Girassol, 23 págs., 12,90 reais
2. Juntamente com Multiplicar, Somar e Subtrair, Dividir é um título da série Clube da Matemática. Ilustrado com personagens como pinguins e outros bichos, diversos cálculos são propostos em tom de brincadeira.
Dividir – Ann Montague Smith – Ed. Girsassol – 28 págs., 19 reais
3. Nino é um simpático cãozinho que vive por aí contando tudo o que encontra pela frente. A cada página, ele elege um objeto e daí é a vez de o leitor entrar na brincadeira e descobrir a quantidade, realizando a contagem.
Contando com Nino – Peter Curry – Ed. Ciranda Cultural – 10 págs., 14,90 reais
4. Imagine 40 propostas de jogos educativos de matemática para crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, testados e aprovados. Agora, pense na possibilidade de poder “fabricar” todos eles, com orientações passo a passo (e moldes!) para poder brincar em casa ou na escola. Com os dois volumes em mãos, o leitor realmente pode organizar um clube e reunir os amigos para brincar de resolver problemas.
Clube da Matemática – Volume I – Jogos Educativos, Mônica Soltau Da Silva – Ed. Papirus, 128 págs., 42,90 reais /// Clube da Matemática – Volume II (45, 90), – Jogos Educativos e Multidisciplinares – Mônica Soltau Da Silva – Ed. Papirus, 152 págs., 45, 90 reais
Sem pesquisa, não dá para transformar livros clássicos em HQ
As adaptações literárias para HQs têm ganhado muito espaço no mercado editorial. Mas é preciso ficar atento à qualidade.
Frankstein, Romeu e Julieta, O Cortiço e O Guarani são alguns dos grandes clássicos da literatura que já podem ser encontrados no formato de história em quadrinhos. As adaptações ganharam ainda mais fôlego graças aos editais do Ministério da Educação que desde 2006 incluem as HQs nas listas de livros do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). São milhares de exemplares encomendados para as editoras, que vão parar nas prateleiras das bibliotecas das escolas públicas brasileiras.
Apesar da lista de 2012 ter vindo com um número drasticamente menor de HQs do que a de 2011 (apenas 7, comparados aos 26 títulos do ano passado), editoras de todos os portes andam investindo pesado em novos títulos. Mas será que as adaptações mantém a qualidade dos textos originais? O que deve ser observado em um trabalho como esse?
“Para fazer uma boa adaptação, a pesquisa é essencial”, garante Spacca, ilustrador, cartunista e autor de HQs, Ele trabalha com desenho há mais de 20 anos e é autor de quatro obras famosas: Santô e os Pais da Aviação (2005), Debret em Viagem Histórica e Quadrinhesca ao Brasil (2006), D. João Carioca (2007) e Jubiabá (2009) – todas publicadas pela Cia. das Letras. A última é uma adaptação do livro homônimo de Jorge Amado e foi com base nela que o autor conversou sobre o tema no QuantaCon, evento realizado no dia 22 de abril em São Paulo.
“Você pode contar uma história de diversas formas, desde que você esteja atento às características do meio, como linguagem e esquema de distribuição”. Spacca acredita que adaptar é negociar, já que é financeiramente inviável realizar um projeto que transponha as centenas de páginas do texto original para outras centenas ilustradas.
O desafio então é conseguir selecionar as partes essenciais. Na imagem abaixo, é possível observar os trechos que Spacca destacou do texto original, que ora dizem respeito ao visual, ora ao textual.
Por fim, os desenhos da cena descrita acima, com os balões ainda em branco:
Esse processo foi repetido ao longo de todo o livro.
Outro ponto interessante é o tipo de traço utilizado na obra. Segundo Spacca, Jorge Amado não gostava que seus ilustradores fizessem imagens muito reconhecíveis. Ele preferia que os leitores criassem seus personagens na cabeça. Por isso o estilo modernista e folclórico das gravuras, a maioria feitas por Carybè.
“Eu não quis seguir essa linguagem porque queria transpor para o desenho o fato de Jorge Amado ter um texto simples de ler. Não queria nada erudito. Quis algo como um cartum, que transmitisse com facilidade o humor e a aventura da história”, conta o autor.
Ele tentou se manter fiel às descrições feitas no livro. Antônio Balduíno, o personagem principal, por exemplo, é o negro malandro “alto como uma árvore, que tinha a gargalhada mais clara da cidade de Salvador”.
Além dos personagens, havia o desafio de recriar o ambiente e a época nos quais a história se passa, a cidade de Salvador (BA) no começo do século 20. Para isso, o autor fez uma extensa pesquisa bibliográfica, buscou referências em museus, visitou pessoalmente parte dos cenários descritos na obra e conversou com moradores. “Tinha que reconstituir algo vivo, maior que o livro”.
A pesquisa é crucial, especialmente para evitar erros. Em meio ao cruzamento do texto com as informações coletadas, Spacca chegou a identificar um erro cometido por Jorge Amado. E se deu a liberdade de corrigir. “Há um trecho em que o orixá da cura de doenças, chamado Omolú, é descrito como ‘a deusa da bexiga’. Consertei. Mas é importante lembrar que ele escreveu Jubiabá aos 22 anos, quando ainda não era muito familiarizado com o tema dos terreiros.”
A adaptação consumiu dois anos de trabalho e, para o autor, teve como foco os editais do governo e o público de escolas públicas e privadas. “Esse tipo de HQ não é feito para leitores de quadrinhos”, conta. Apesar disso, Jubiabá não consta em nenhuma das listas do PNBE, desde seu lançamento em 2009. Uma estranha ausência, especialmente em 2012, quando o país comemora os 100 anos de nascimento de Jorge Amado.
A matéria foi elaborada com base no debate “Adaptação Literária”, durante o evento QuantaCon, no dia 22 de abril em São Paulo. Contou com a participação de Spacca, Rodrigo D´Mart e Indio San, com mediação de Paulo Ramos.
Com que livro eu vou?
Matéria retirada da Revista Gloss edição 53
Texto de Sabrina Abreu
Assim como existe o corte de calça jeans perfeito para cada quadril, há os livros ideais para cada uma de nós – aquela combinação de certos temas e autores capaz de fazer bem, de um jeito muito particular, à nossa alma. Para encontrar tanto o visual quanto a biblioteca dos sonhos, só com tempo, tentativa e erro, autoconhecimento. Ninguém nasce estilosa ou se torna expert em sobreposições do dia para a noite. De igual forma, é impossível ter intimidade imediata com os grandes romancistas, os pensadores contemporâneos e modernos, os biógrafos e poetas mais ousados. O bom gosto requer treino. E esse treino pode ser dos mais deliciosos.
Talvez fique meio difícil acreditar no prazer dessa busca. Nos tempos de colégio, surgiu um bloqueio por causa da leitura obrigatória daquele clássico que parecia arrastada demais? Insista. A boa literatura mexe com tudo. Acalma e perturba. É um presente seu para você mesma, assim como aquela roupa bonita ou uma comida gostosa. Segundo Franz Kafka, “um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós”. E, se os títulos que caíram em sua mão ainda não provocaram uma ruptura interna, tente outro Machado. E outros Sabino, Stendhal, Sartre, Pessoa, Drummond…